Adoro associar tudo a provérbios ou contos.
Hoje lembrei-me do conto de Hans Christian Andersen, o escritor dinamarquês que em 1835 dizia que só uma princesa tem uma sensibilidade tal que consegue sentir uma ervilha por baixo de diversos colchões. Eu vejo um mundo de princesas e príncipes que embora sintam os estímulos não se queixam.
Nossos lábios, os dentes a boca e o corpo
Os nossos dentes estão ligados a nós por um sistema fenomenal, composto por ligamento, osso e gengiva.
As estruturas têm uma sensibilidade (propriocepção) tão minuciosa que recebe, integra e responde a estímulos de forma a proteger, promover e dar as respostas necessárias. Para cada estímulo há uma resposta. Resta saber se o estímulo está a ser positivo ou negativo, na sua direção, intensidade e frequência. Os estímulos são por exemplo, os toques dentários, a mastigação, a língua, a fala, a respiração e até a saliva.
O que vos quero mostrar é que somos feitos de pequenos estímulos e dada a frequência e força desses estímulos as alterações ocorrem. Quando aprendemos a ler começamos pelas letras e lentamente lemos mais e cada vez melhor.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, já pensaste nisto?
Quando explico as vantagens do equilíbrio funcional explico sempre que os lábios são os melhores alinhadores dos dentes e a língua é o melhor expansor da boca.
Quando temos os lábios fechados respiramos lenta e suavemente pelo nariz. Já quando temos os lábios quase fechados respiramos pela boca. É sempre assim, quer queiramos ou não.
Basta um pequeno hábito, uma pequena mudança para que comecemos a desequilibrar o sistema.
Quando respiramos pela boca uma cascata de acontecimentos ocorrem, interna e externamente.
Lábios selados vs Lábios abertos
Sem os lábios selados, a saliva tende a alterar a sua produção, promovendo a desidratação dos dentes expostos e da gengiva. Começamos a notar os dentes a escurecer, menor brilho, maior adesividade aos pigmentos externos, bactérias e ácidos e mais tarde mais propensos a traumas e cáries.
Se os lábios estão abertos, as bochechas terão de ter maior força de sustentação e começam a comprimir as arcadas dentárias lateralmente, assim surge o apertamento dos dentes da frente. Os dentes anteriores notoriamente ficam mais expostos, os superiores e os inferiores começam a entortar, rodar e a culpa cai nos sisos. E quem se lembra que muitos dos pacientes já não têm sisos ou lhes falta algum dente e ainda assim sentem estas alterações da boca?
E se a boca está aberta, mesmo que de forma quase imperceptível a língua deixa de estar tão elevada para criar uma passagem e o ar entre diretamente para os pulmões.
A língua e sua importância
A língua é um conjunto fortíssimo de músculos e o seu peso e força são dos mais difíceis de combater. Como tal, considero fundamental passar a língua para nossa aliada e deixar de a ver como um inimigo a abater. Ensinar a língua será das jornadas mais épicas que tenho em parceria com os meus pacientes, mais desafiantes que uma criança, educar a língua requer entendimento, compreensão e atenção. Não é empurrando que lá chegaremos. A ortopedia funcional dos maxilares e a terapia miofuncional promovem os estímulos necessários para reeducar os músculos.
Quando a língua tem uma posição mais baixa e a respiração é oral, a cabeça vai rodar para trás e inclinar-se para a frente aumentando o peso e a compressão nas vertebras cervicais; tanto pela posição da língua como para reduzir o percurso do ar até aos pulmões.
A respiração e as doenças
Descubra também > Ortopedia Funcional dos Maxilares VS Ortodontia: qual o ideal para ti?
Quando estamos a respirar pelo nariz a respiração é suave e filtrada. Se respiramos pela boca a quantidade de ar é imediatamente maior e o ar não será filtrado. Assim, se passarmos da respiração oral para a nasal tendemos a respirar excessivamente, de forma mais acelerada e parece que confundimos o sistema. Para agilizar, o metabolismo decide respirar pelo nariz mantendo alguma ventilação oral.
E assim começam as doenças, é comum muitos pacientes referirem ‘apenas respirar pela boca quando o nariz entope’. Porém o nariz só entope quando não respira. Se nariz que respira não entope, o que se passa para que nem notemos o tipo de respiração? Fácil. As funções básicas são inatas e executadas de forma inconsciente. Em algum período da nossa vida, por hábitos que aprendemos ou tomámos, a nossa respiração tendeu a alterar-se. Se esse hábito foi continuado por mais de 6 meses teremos a certeza que precisamos de 30 a 60 dias de treino focado para restabelecer a forma correta de respiração. E, não falo apenas da respiração o mesmo acontece com o sono, com a mastigação, a deglutição e qualquer outro exercício, até mesmo o físico.
Quando fechamos a boca parece que o ar falta, a boca seca o não, os lábios colam ou estão ásperos, a língua sente-se presa. A mudança é fundamental para a nossa saúde e nunca é tarde para começar. Já pensaste nisto?
Fecha a boca, lábios selados e inicia agora a tua respiração nasal. Cada dia será melhor, porém sentirás algumas fases com maior dificuldade, é assim, cada percurso tem os seus altos e baixos e estou aqui para te ajudar.
Até breve
Comentários