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Respiração oral e nasal: o que nunca te contaram

A respiração pode ser oral ou nasal.

Respirar é a função mais básica de todas. A que fazemos sempre de forma inconsciente. Respiramos mais frequente do que qualquer outra das funções básicas.

Sua respiração é oral ou nasal?

Nestes anos todos percebi que muitos de nós, até eu acreditava, que apenas respirava pelo nariz. As crenças e perceções que temos de nós próprios nem sempre são as mais reais. Portanto, ganhar consciência respiratória é mais do que perceber se o nariz está obstruído. Quando existem doenças associadas torna-se óbvio que alguma parte do teu dia ou noite respiras pela boca.

Respiração Oral vs Respiração Nasal

Quando a respiração predominantemente oral se inicia em bebés as alterações da face e da boca vão acontecendo e o paciente fica sem espaço para os dentes, tem o sorriso com os dentes muito juntos, apresenta a boca entreaberta durante vários períodos do dia. A boca entreaberta é mais notada nos períodos de relaxamento e descanso. Aqui notamos então algumas alterações do sono que vão desde o sono agitado, transpiração, xixi, ressonar, entre outros sinais.

Quando respiramos pelo nariz o ar é filtrado, mas quando respiramos pela boca o ar não é filtrado e entra diretamente nos pulmões. A inspiração pela boca provoca a entrada de bactérias, vírus e outras partículas diretamente nos pulmões. A quantidade de ar é também maior. Então, o sistema respiratório não consegue processar a hiperventilação e aumenta a carga do coração a bombear cada vez mais sangue para tratar todo o oxigénio. Esta hipertensão cardíaca é grave e tem de ser contrariada para que o nosso organismo sustente a quantidade de ar que entra. Assim, o equilíbrio é regulado pelo sistema urinário e o aumento da função renal, aumentando assim a produção de urina.

Estas ações mecânicas são ideiais para o nosso equilíbrio, porém, sabemos que terão um limite e que o esforço a longo prazo só leva a mais doenças. Portanto, o controlo da respiração nasal é fundamental. O método de normalização de respiração do Dr Buteyko é fácil em qualquer idade e os resultados são visíveis logo na primeira semana.

Reações químicas da respiração oral e nasal

Já expliquei a parte mecânica da compensação respiratória, quero então explicar-vos a parte que menos se vê e muito se faz notar, as reações químicas da respiração.

Respirar pelo nariz além de filtrar o ar, aquecer e humidificar também permite trocas gasosas que na boca não existem. Portanto, quando respiramos pelo nariz produzimos óxido nítrico promove o relaxamento do músculo liso o que provoca, como ações biológicas, a vasodilatação e a broncodilatação.

O óxido nítrico tem sido muito estudado nas tarefas que cumpre no organismo humano: além de ser vasodilatador, participa de mecanismos de defesa e regula a libertação de algumas hormonas. Esta pequena e simples molécula, talvez a menor produzida pelos mamíferos, tem efeitos fascinantes desde a manutenção inicial da vida, através do controle da circulação placentária, ou a indução do início da vida através da regulação das contrações uterinas no trabalho de parto, como também tem efeitos letais demonstráveis, por exemplo, no choque séptico. O óxido nítrico é um importante neurotransmissor com capacidade potencializadora, atuando na memória e na aprendizagem, podendo também ter ações endócrinas. A sua ação na imuno-regulação está presente na inflamação e nos mecanismos de autoimunidade. Esta molécula tem revolucionado e obrigado revisão de paradigmas da medicina, principalmente em neurologia, cardiologia, nefrologia e gastroenterologia.

Quando respiramos pela boca, os benefícios do óxido nítrico invertem-se. A entrada diretamente para os pulmões de moléculas de óxido nítrico no ambiente é tóxica e por isso prejudicial de duas formas, não é produzida a molécula e os mecanismos que proteção que deveriam ser ativados não acontecem.

Concluindo, respirar pela boca é impercetível muitas das vezes, o problema apenas se nota a longo prazo, compensações do nosso organismo são tidas como ‘normais’ e normalizar a respiração torna-se um desafio quando não se entende e aceita o padrão respiratório prejudicial.

A respiração nasal deve acontecer quando?

Quando descansamos, dormimos, falamos, comemos, brinca mos, lemos e vivemos. A respiração nasal correta é considerada a inspiração nasal e expiração nasal. No entanto, podemos considerar duas exceções, a natação e a exaustão física. Na natação teremos mesmo de respirar pela boca. Na exaustão física a respiração deve ser forçada a inspiração nasal e a expiração oral.

Por isso gostava de vos falar da expiração oral. A expiração, parte fundamental da respiração deve também ser lenta e suave, pelo nariz, para que não se perca demasiado dióxido de carbono. Quando gastamos demasiado dióxido de carbono temos falta de ar. Na respiração oral o volume de ar expirado é claramente maior do que o ar expirado pelo nariz. Esta perda é fundamental na exaustão física para a renovação muscular e regulação do ácido láctico nos músculos. No entanto, se expiramos demasiadas vezes pela boca o nosso organismo torna-se mais ácido, perdemos pelas vias renais moléculas como o cálcio, o fósforo e o potássio numa tentativa de equilíbrio metabólico.

E se começarmos a olhar à volta os sinais e sintomas de quem tem alterações ao padrão respiratório são visíveis em todos nós.

Os sinais mais comuns são:

  1. Respiração oral

  2. Obstução nasal

  3. Dor de garganta

  4. Sensibilidade na faringe

  5. Muco espesso aderido à garganta

  6. Tosse seca persistente

  7. Cefaleia matinal

  8. Infeções das vias aéreas superiores recorrentes (ouvidos, garganta…)

  9. Halitose

  10. Enurese noturna

  11. Sonolência / Irritabilidade

  12. Dificuldade alimentar / aerofagia

  13. Mau aproveitamento escolar

  14. Face de respirador oral crónico

  15. Aumento de cáries dentárias

  16. Deformidades dento-faciais

  17. Faringe – pardes alteradas

  18. Pectus excavatum – depressão no torax

Estes sinais estão associados a:

  1. Hipertrofia adenoideana

  2. Rinites

  3. Rinossinusites

  4. Tumores nasais benignos e malignos

  5. Polipose nasal

  6. Desvios septais

  7. Atresia coanal

  8. Corpos estranhos

  9. Estenose de fossa nasal

  10. Alteração cartilaginosa da pirâmide nasal

Eu precisei de 6 semanas para normalizar a minha respiração. E noto nos últimos 7 anos uma melhoria geral em mim, sinto-me cada vez melhor, nunca mais fiquei rouca, nem com o mais leve sintoma de sinusite.

As repercussões sistémicas podem acontecer a vários níveis, como falei. Vou agora resumir em cada sistema.

As repercussões sistémicas em cada sistema

No sistema respiratório, a respiração oral leva ao aumento da resistência pulmonar, diminuição da complacência pulmonar e diminuição da pO2 arterial. Leva também à menor ventilação e oxigenação dos alvéolos mais periféricos. Alguns autores acreditam que a síndrome da morte súbita do lactente pode estar associada a obstrução nasal em neonatos, uma vez que estes têm respiração quase que exclusivamente nasal e não utilizam a respiração oral se não estimulados.

A tosse crónica apresentada por muitos respiradores orais ocorre porque não há o adequado aquecimento e humidificação do ar inspirado pela boca No sistema cardiovascular o regime de hipóxia (falta de oxigénio) recorrente pode levar a hipertensão pulmonar e evolui até a falência pulmonar. A obstrução nasal pode levar o uso indiscriminado fármacos que elevam a pressão arterial, predispõem a arritmias (extra-sístoles) e levando assim, até mesmo a paragem cardíaca.

Consequencias da respiração oral no sono

No Sono, os pacientes com respiração oral podem apresentar hipersonolência diurna, sono dessincronizado (alteração da fase REM do sono), depressão da capacidade de despertar, sono agitado e enurese noturna.

A síndrome da apnéia-hipopnéia obstrutiva do sono (SAHOS) é a expressão máxima dos distúrbios respiratórios do sono. Está presente em crianças e em adultos. Em crianças a principal causa é a hipertrofia das amígdalas faríngeas. As apnéias e hipopnéias levam à fragmentação do sono, devido aos microdespertares, causando hipersonolência diurna, irritabilidade e alterações hormonais. As pausas respiratórias frequentes também levam a hipóxia, hipercapnia e acidose podendo causar diminuição do rendimento escolar e cefaleia matinal.

O esforço respiratório repetido durante a noite causa deformidades torácias como o pectus excavatum. Durante os períodos de hipóxia ocorre a vasoconstricção reflexa da microcirculação pulmonar, ocasionando a hipertensão pulmonar. A insuficiência cardíaca direita leva a hepatomegalia (aumento do fígado) e edema de membros inferiores.

No Sistema hematopoético (sistema sanguíneo), os pacientes com respiração oral podem ficar em um estado de hipoxemia (baixa concentração de oxigénio) durante o sono e desenvolver uma policitemia compensatória (produção excessiva de células sanguíneas – podem se sentir cansadas e fracas, tontas ou com falta de ar ou desenvolver sintomas causados por coágulos sanguíneos).

No sistema gastro-intestinal, a obstrução nasal pode gerar disfagia quando a doenças da nasorfaringe que dificultam a coordenação da respiração com a deglutição. A aerofagia é frequente nestes pacientes.

No Sistema endócrino, muitas hormonas são dependentes do ciclo cicardiano, assim os distúrbios respiratórios causados pela obstrução nasal levam a produção inadequada dessas hormonas. Por exemplo, a alteração da libertação da hormona GnRH leva à redução do crescimento e à diminuição da secreção da hormona anti-diurética que leva à enurese noturna.

Como repercussões locais notamos:

  1. Deselvovimento dento-crânio-facial (ossos nasais, maxilares, zigomáticos, palatinos e vômer) O crescimento lateral é altamente dependente do fluxo aéreo nasal, sendo que este último promove a reabsorção óssea no lado nasal e a deposição no palato. As crianças respiradoras orais têm tendência à face alongada. As crianças com face alongada apresentam maior tendência à respiração oral, uma vez que têm os palatos mais estreitos.

  2. arco dentário superior atrésico

  3. mordida cruzada posterior e aberta anterior

  4. padrão de crescimento verticalizado

  5. palato ogival

  6. boca entreaberta

  7. língua baixa e para frente

  8. palato mole orientado verticalmente

  9. rotação mandibular posterior (negativa)

  10. osso hióide baixo

  11. coluna cervical inclinada para trás

  12. Orofaríngeas (garganta) – o ressecamento da parede anterior da faringe ocasiona o aumento dos folículos linfóides. O ressecamento da saliva favorece o aparecimento de placa bacteriana.

  13. Otológicas (ouvido) – a obstrução nasal pode estar associada à alteração otologica pela proximidade. A maioria das alterações otológica é devida a obstrução mecânica, favorecendo o aparecimento de otites médias.

  14. Rinussinusite crónica ou recorrente – a obstrução nasal predispõe a estagnação das secreções facilitanto a infecção. Além disso, em crianças podemos ter associação de adenoidites crónicas.

  15. A halitose é comum devido a rinorreia posterior.

  16. O Olfacto estará prejudicado, devido à inflamação nasal ou obstrução mecânica da região da placa crivosa.

  17. A voz estará aletrada como hiponasal ou rouquidão por pólipos nas coradas vocais.

Estes e outros motivos já serão suficientes para iniciar a mudança agora. Começamos assim:

1) Confirma que passa ar pelo nariz. A quantidade vai parecer insuficiente em alguma fase desta normalização de respiração. 2) Selar os lábios de forma fácil e rápida, basta que os lábios se toquem e que não fique nenhuma abertura para que não passe ar. Não vale humedecer os lábios com a língua, nem inspirar pela boca antes de selar os lábios. 3) Respirar lenta e suavemente apenas pelo nariz. Nunca descolando os lábios.

Quanto tempo está confortável assim? Por fim, a normalização de respiração pode necessitar de ajuda, proponho para leitura o manual de Normalização de respiração Adenoides Sem Cirurgia e se quiseres mais ajuda eu estou aqui.

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